O código
Reivindico outro código:
um código diferente da palavra,
um idioma não verbal,
uma linguagem impossível de condenar na memória,
um dizer que desminta juramentos,
um falar mudo
sem livro de reclamações nem tabela de preços,
um fluir permanente de mensagens ambíguas,
a expressão daquilo que não se quer expressar.
(versão minha a partir da tradução castelhana apresentada em Las Aguas Tranquilas - Ocho poetas vascos actuales; seleção de Aitor Franco, Renacimiento, Sevilha, 2017, p. 141).
sábado, 23 de dezembro de 2017
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Harkaitz Cano
Súplicas atendidas
Deus ajuda os inconscientes.
Lamentavelmente, eles não se apercebem.
(versão minha a partir da tradução castelhana apresentada em Las Aguas Tranquilas - Ocho poetas vascos actuales; seleção de Aitor Franco, Renacimiento, Sevilha, 2017, p. 249).
Deus ajuda os inconscientes.
Lamentavelmente, eles não se apercebem.
(versão minha a partir da tradução castelhana apresentada em Las Aguas Tranquilas - Ocho poetas vascos actuales; seleção de Aitor Franco, Renacimiento, Sevilha, 2017, p. 249).
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Rikardo Arregi Diaz de Heredia
Fotografia de guerra
Essas bombas mataram gente. Falo de pessoas.
Prova irrefutável da fragilidade da carne,
rebentaram olhos, sangue foi derramado,
destroçaram-se fígados e demais vísceras
como se se tratasse de obra de nouvelle cuisine.
Revela-se, porém, surpreendente a integridade dos objetos:
os sapatos estão inteiros, não têm mais que pó,
e também se acham intactos os armários e as camas,
os lençóis tingidos de vermelho, quase sem rasgões,
e nem todos os vidros se partiram, só alguns,
e o espelho parece que acaba de ser comprado,
e os tapetes impecáveis, só pó, e de novo
sangue coagulado sobre a superfície de todas as coisas.
É verdade que as paredes foram deitadas abaixo
e que há um buraco no teto, por onde entrou
a bomba. O resto dos objetos potencialmente frágeis
continua de pé. Pó e sangue por todo o lado,
obviamente, não podia ser de outro modo, mas
os pedreiros poderiam reconstruir sem grande problemas
aquilo que já não podem reparar os médicos.
Essas bombas mataram gente. Falo de pessoas.
Prova irrefutável da fragilidade da carne,
rebentaram olhos, sangue foi derramado,
destroçaram-se fígados e demais vísceras
como se se tratasse de obra de nouvelle cuisine.
Revela-se, porém, surpreendente a integridade dos objetos:
os sapatos estão inteiros, não têm mais que pó,
e também se acham intactos os armários e as camas,
os lençóis tingidos de vermelho, quase sem rasgões,
e nem todos os vidros se partiram, só alguns,
e o espelho parece que acaba de ser comprado,
e os tapetes impecáveis, só pó, e de novo
sangue coagulado sobre a superfície de todas as coisas.
É verdade que as paredes foram deitadas abaixo
e que há um buraco no teto, por onde entrou
a bomba. O resto dos objetos potencialmente frágeis
continua de pé. Pó e sangue por todo o lado,
obviamente, não podia ser de outro modo, mas
os pedreiros poderiam reconstruir sem grande problemas
aquilo que já não podem reparar os médicos.
(versão minha a partir da tradução castelhana de Ángel Erro incluída em Las Aguas Tranquilas - Ocho poetas vascos actuales; seleção de Aitor Franco: Renacimiento, Sevilha, 2017, p. 43).