A mulher do poeta irritou-se
com o poema "A chave do gás".
Não vê por que razão a metáfora da palavra,
ou a ambiguidade da palavra,
ou as feridas que a palavra produz
podem impedir alguém
de saber onde está a chave do gás e
como ela fecha e abre. Tem razão.
O poeta labora num erro porque
a chave da palavra, digamos, nem fecha
nem abre, e pode até dizer-se que não existe,
e menos ainda a sua metapalavra,
a sua ambiguidade cortante ou vazio.
A realidade da cozinha tranquiliza,
há chaves que fecham, que abrem, funcionam
cumprindo a função de demonstrar
que há coisas que se fecham e abrem
e sonham desde ontem na minha cabeça
e que não consigo fechar.
(versão minha; poema do livro Valer la pena, Visor Libros, Madrid, 2008, 2ª edição, p. 131)
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