segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Robert Hilles

Este poema não te vai magoar



Contém apenas palavras gentis.
Não há esquadrões da morte
à espera clamando por ti entre
as sílabas. Os sons das
explosões e da morte são vagos
e pertencem às composições
de outros. Aqui podes viajar
em segurança. É calmo; repousa
entre o desepero e a perda.
As flores crescem cuidadosamente
neste poema. As suas fragrâncias demoram-se
por dentro do ritmo das
palavras. Muda cada página suavemente.
Entregam-se assim que a tua língua
imagina o seu sabor. Este poema
não conquista nada. Não ataca
nada. Foge das
ofensas, das discussões,
das vozes agressivas. Muda a página
suavemente. As ruas neste poema
estão repletas de música. Até os
mortos são leves; flutuam
livres do estranho malogro
da sepultura. Muda a página
suavemente. Quando terminares este
poema, adormece; pensa apenas nos deuses
e no que lhes gostarias
de pedir. Este poema não tem
queixas contra ti, liberta-o suavemente.
Outros foram torturados por
pensamentos idênticos. Este poema não se preocupa
com a cor da tua pele ou o tipo
de atrocidades pessoais que testemunhaste.
Liberta-o suavemente. Há uma imagem final.
Lê-o em voz alta.
Uma letra de cada vez.



(versão minha; original reproduzido em In the clear - a contemporary canadian poetry anthology, selecção e organização de Allan Forrie, Patrick O'Rourke e Glen Sorestad, Thistledown Press Ltd. Saskatoon, 2ª impressão, 2006, pp. 102-103).

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