Eu sou uma vaca chamada Poesia,
dou algum leite,
normalmente com 2,5% de gordura,
às vezes consigo mesmo
espremer cá para fora 3%,
sinto-me orgulhosa por tudo ser processado
com a mais avançada tecnologia
e por ver as embalagens tetrapack
chegarem aos consumidores pouco exigentes,
estou doente com todas as doenças
não conhecidas das coisas vivas
e exposta com cuidadosa minúcia
nos compêndios veterinários,
pasto em boa companhia
(o colectivo é amigável,
não há barreiras de línguas),
tenho medo dos moscardos e dos especialistas em zoologia,
e posso ser útil também de outras maneiras -
quando chega o frio, quando defeco,
se escalares o meu monte
vais sentir o calor
a subir desde os pés
até cima até à parte de trás da tua cabeça.
(versão minha, a partir da tradução do lituano para o inglês de Jonas Zdanys, reproduzida em A Fine Line - new poetry from Eastern & Central Europe, organização e selecção de Jean Boase-Beier, Alexandra Büchler & Fiona Sampson, Arc Publications, Todmorden /Lancs, 2004, p. 75).
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