sábado, 24 de abril de 2010

José María Micó

Breve História de Espanha



"Quando é preciso descobrir um Novo Mundo
ou domar o mouro,
ou há que medir o cinturão de ouro
do Equador, ou levantar sobre o profundo
espanto do erro negro que pesa
sobre a Cristandade o pensamento
que é amor em Teresa
e é claridade em Trento,
quando há que consumar a maravilha
de alguma nova façanha,
os anjos que estão à beira do seu Trono
olham para Deus... e pensam em Espanha."
(José María Pemán)




Tenho em casa o Poema
da Besta e o Anjo,
inveja de bibliófilos:
"Saragoça, Edições Jerarquía,
abril de mil novecentos e trinta e oito,
Segundo Ano Triunfal."
Certa dedicatória
do poeta a um amigo
seguramente médico
faz mais raro o meu exemplar.
Na primeira página, o tipógrafo
das Indústrias Gráficas Uriarte
dispôs sabiamente,
sobre papel precioso,
umas letras douradas:
"Franco, Calvo Sotelo, José António,
Sanjurjo, Mola."
Ainda se torna mais belo
o brilho desses nomes.
Com o seu fulgor acende-se
a lembrança e leva-me
às mesmas paragens,
ao campo descuidado de Pina de Ebro,
abril de mil novecentos e trinta e oito:
ali um mouro domado
por algum anjo espanhol daqueles
que olhavam para Deus
ceifou com tiros de espingarda cristã,
não com uma cimitarra feroz e herege,
os dias do soldado
Francisco Gómez Cuéllar,
morto aos trinta anos
com tempo suficiente
para manter viva a minha linhagem.




(Versão minha; original reproduzido em Por vivir aquí - antologia de poetas catalanes en castellano (1980-2003), organização de Manuel Rico, prólogo de Manuel Vázquez Montálban, Bartleby, Madrid, 2003, pp. 249-250).

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