Eu sou a mulher que já não sabe
onde quer ser sepultada.
Quando era pequena, queria um anjo enorme no meu túmulo
com asas como num quadro de Caravaggio.
Mais tarde achei isso demasiado pomposo.
E então pensei que preferia uma cruz.
Depois pensei - uma árvore.
Eu sou a mulher que já não sabe
se quero ser sepultada.
Se já ninguém vai a cemitérios
se vocês já não me visitam lá
também sou capaz de deixar as minhas cinzas num frasco de compota
e ser mais transportável.
Mas voltemos à minha exposição aqui.
Disseram-me que as pessoas querem saber
porquê um título tão sóbrio para uma mostra?
Trata-se de algo sobre artistas a meio da sua carreira,
ou é sobre mulheres depois dos cinquenta danos?
Não. Quero deixar isto claro:
É a melhor definição que consigo encontrar
para aquilo que um artista faz quando se trata de arte
e para o modo como uma figura deixa a sua marca num quadro.
Para o tipo de retratista como eu
isto é tão longe quanto consigo alcançar.
(Tradução de Ricardo Castro Ferreira; Marlene Dumas é uma artista plástica sul africana; o texto/poema original pode ser lido algures por aqui).
"ou é sobre mulheres depois dos cinquenta danos"
ResponderEliminar"Danos", por acaso, fica excelente.
obrigado.
ResponderEliminarNão conhecia nada escrito pela Marlene Dumas e gostei francamente do texto. Também reparei nos "cinquenta danos"... é o tipo de pormenores que nos fazem confiar na qualidade de uma tradução.
ResponderEliminarNão encontro em lado nenhum traduções da poesia de Hans Raimund. Adorava poder lê-lo em português... quem me ajuda?
Mais uma surpresa boa.
ResponderEliminarObrigada!
(levei para o meu blogue)