terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Charles Simic

Hotel Insónia



Gostava do meu buraquinho,
com a janela virada para a parede de tijolo.
Na porta ao lado havia um piano.
Algumas tardes por mês
um velho aleijado vinha tocar
"My Blue Heaven."

Mas havia, normalmente, sossego.
Cada quarto com a sua aranha no seu pesado sobretudo
A apanhar a sua mosca com uma teia
De fumo de cigarro e devaneios.
Tão escuro,
que não podia ver a minha cara no espelho da barba.

Às 5 da manhã o som de pés descalços lá em cima.
O Cigano que lia a sina,
Cujo estabelecimento ficava à esquina,
A urinar depois de uma noite de amor.
Uma vez, também, o som de uma criança a chorar.
Tão próximo estava, pensei
Por um momento, que era eu quem chorava.



(Versão inédita de António Ladeira; o original pode ser lido aqui)

4 comentários:

  1. Oi LP,

    Esqueci de "pedir". Já fui logo me apossando da tradução deste poema (incrível) e publicando aqui:

    www.casadeleitura.blogspot.com

    Espero que aprecie o atrevimento!

    Carol :)

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  2. Aprecio, com certeza; só peço que faça justiça ao tradutor, que não sou eu desta vez, mas, sim, António Ladeira...

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  3. Lp,

    verdade, eu que não li com atenção que a tradução era do António Ladeira.

    bem, de qualquer forma, a descoberta foi sua e eu já expliquei tudo direitinho na publicação.

    Bjs,
    Carol

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  4. Obrigado por tudo, Carol. E espero que vá acompanhando o blogue, porque novas e excelentes traduções de Simic, feitas propositadamente para este trapézio, em breve serão publicadas...

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