Para Hayden Carruth
Se não viste o cão de seis patas,
Não tem importância.
Nós vimos, e ele praticamente só ficava deitado a um canto.
Quanto às pernas extra
As pessoas habituavam-se rapidamente àquilo
E pensavam noutras coisas.
Como, que noite fria e escura
Para se andar na feira.
Depois o dono atirou um pau
E o cão foi apanhá-lo
Nas quatro patas, as outras duas a abanar atrás,
O que fez uma rapariga dar um guincho de riso.
Estava bêbeda tal como o homem
Que teimava em beijar-lhe o pescoço.
O cão apanhou o pau e olhou para nós.
E o espectáculo era aquilo.
(Versão inédita de António Ladeira; o original pode ser lido aqui. Este poema surge na página 53 de Previsão de tempo para utopia e arredores, antologia de Charles Simic, com selecção e tradução da responsabilidade de José Alberto Oliveira, publicada pela Assírio & Alvim em 2002. Mais poemas de Simic em português podem ser lidos aqui e aqui).
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