segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cristina Morano

A herança


A Tomasa Meco, in memorian



A minha mãe ensinou-me a bordar:
o dedal no dedo médio,
usar o fio em pequenas meadas,
ensinou-me a fazer o ponto de bainha dupla
e a dispor a loiça de porcelana:
primeiro as bandejas,
depois os pratos e os copos.
A minha avó ensinou-me a engomar:
o lenço de criança dobrava-se
num triângulo, como o de solteira,
só o de cavalheiro se dobrava
em forma de rectângulo.

- Então és filha de boas famílias.
- Não, sou a filha das criadas.



(Versão minha; original reproduzido em La manera de recogerse el pelo - Generación blogger, selecção de David González; prólogo de José Ángel Barrueco, Bartleby, Madrid, 2010, p. 211).

5 comentários:

  1. simples mas tão delicado, este poema...

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  2. Concordo. E, ao mesmo tempo, como quem não quer a coisa, uma forte declaração política...

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  3. Gostei muito do seu poema, Cristina.Vou querer ler mais coisas suas.Um abraço e um obrigada ao Luís que ma deu a conhecer...

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  4. Obrigada, Bom Dia ...
    Gostei muito, tocou-me, fez-me doer o meu coração...
    O nosso mundo precisa de si, que nunca, mas nunca, lhe faltem as palavras...

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