Os que me tocam
dão um grito, aterrados.
Ignoro, no entanto,
se sou quente ou fria,
pois não estou um segundo em nenhum sítio,
nem é nada o que fui há um instante.
O meu modo de partir é o incêndio.
Luto contra o escuro,
mas não chego a lado nenhum:
só regresso ao obscuro.
Temem-me sempre porque,
por alguma razão desconhecida,
procuro o papel, a madeira e a carne,
roço-me por eles, acaricio-os, vou comendo-os
e eu mesma
pereço nas suas cinzas.
Sim, sou desprendida até à medula.
Os que me tocam dão um grito:
sei que para os homens
o meu amor é um escândalo.
(Versão minha a partir da tradução castelhana de Aurelio Asiain reproduzida em Para otras mil generaciones más... Antología poética japonesa desde el Kojiki a nuestros días; organização, prólogo e apresentação dos autores de Fernando Cid Lucas; Amargord Ediciones, Madrid, 2013, pp. 109-110).
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