O vento arrasta o céu. A chuva
molha. Ao longe bate uma persiana esquecida.
O rádio dá notícias sobre as cinzas
da Europa. A água ferve sobre o fogo.
A rosa desfolha-se. O limpa-chaminés
não veio. Tenho de comprar um disco
de blues. Escreveram-me uma carta
anunciando-me que morreu, ultramarino,
Vicente Huidobro. Os meus antigos amigos
ameaçam expulsar-me desta casa fria. Oxalá
possa escrever alguns versos menos maus, que digam
todo o horror e toda a doçura
de viver nesta cidade, neste tempo
de suspeitas, de mentiras,
de forcas levantadas por aqueles
que quisemos ver no Castelo.
Oxalá um dia se editem,
nesta cidade, estes versos, e se tornem
incompreensíveis.
[por volta de 1949]
(Versão minha; original reproduzido em Via Labirinto - Poesía (1978-2015), La Veleta, Granada, 2015, p. 130).
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