quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Rafael Alberti

 [Os quadros dormem?...]



Os quadros dormem? Dormem? Se eu entrar
sigilosamente, esta noite, no museu,
dormirás tu, duquesa sem vestido?
E tu, Diana, a do seio descoberto ao ar,
fugirias comigo para os jardins?


***


[A estas horas em Roma...]


A estas horas em Roma e em uníssono
a cantar despertávamos sempre
um melro e eu.
Chegada já a luz ele lançava-se em voo
da escura laranjeira daquele pátio,
eu dos meus solitários lençóis,
para, os dois, nos perdermos,
cada um por si,
já no interior do dia.


***


[Chove no comboio]


Chove no comboio.
A chuva é uma viajante.
Vai viajando nos vidros, só.
De súbito, irrompe o sol.
E a chuva desce num qualquer povoado.


***


[A lua já se vai...]


A lua já se vai, pequena, só, triste,
por entre as nespereiras.



(Versões minhas; os poemas originais foram incluídos por José Luis García Martín em Poesía española: 1982-1983 - crítica y antología; Hiperión, 1983, Madrid, pp. 151-152).

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