Canibal
A primeira vez
que provei carne humana
tinha dez anos.
Deu-se durante uma discussão
com o meu irmão mais velho, de doze anos,
quando ele rebaixou
os meus adorados Beatles,
dizendo que eram exageradamente valorizados
e só para cretinos.
Perdi a cabeça,
fui-me a ele
e arranquei-lhe um pedaço considerável
de carne do ombro,
parte do qual
- cartilagem muito provavelmente -
ficou presa entre os dentes.
Seguiram-se uivos e rangidos
até que a minha mãe interveio.
Ficou tão chocada
com aquilo que eu acabara de fazer
que se esqueceu de me bater
e mandou-me directamente para a cama
sem jantar.
Mas, dah!, eu já tinha comido.
(Versão minha; original incluído em My life as a stalinist; Southword editions; Cork, 2018, p.17).
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