sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Karmelo C. Iribarren

 As coisas



Dizem que as coisas
não falam,
mas o armário range, a torneira goteja
e a escova dos dentes
pode fazer-te sangrar.
Não falemos das chaves
que se perdem,
do guarda-chuva que se esquece
ou da carteira que te roubam.
Quem nos garante que não o desejavam
há muito
tendo em conta a forma como as tratamos.
Andam por aí, as coisas, servindo-nos
e são felizes ao fazê-lo.
Mas também nos observam.
Algumas continuarão cá
quando não estivermos,
e falarão de nós.



(Versão minha; El escenario; Visor, Madrid, 2021, p. 49).

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