[Luminosos amanheceres da morte,]
Luminosos amanheceres da morte,
houve uma época em que se morria em casa.
Havia tempo para nos familiarizarmos com a morte,
para praticarmos um pouco com ela, começava-se cedo
com alguma coisa de pouca amplitude, uma dor nas costas
ou a rotura de um tendão.
O corpo vai-se desatando da vida.
Lança um olhar, como se se detivesse na fronteira entre dois Estados
e perguntasse: "A qual deles pertence esta terra?"
Ainda tem algum tempo antes de uma onda poderosa e morta
se acumular às claras sobre os ombros.
Antes que cheguem os amanheceres sem brilho
no silêncio de um mundo vazio no qual não há ilhas
nem bonecos de areia e a solidão
é já absoluta
(Versão minha. Fonte: Luz que fue sombra. Diecisiete poetas polacas (1963-1981); selecção e tradução de Abel Murcia e Gerardo Beltrán, Vaso Roto, Madrid, 2021, p.39).
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