Ar
Naturalmente é de noite.
Sob o alaúde virado com a sua
Única corda eu sigo o meu caminho
O qual tem um som estranho.
Pó aqui, pó daquele lado.
Escuto os dois lados
Mas prossigo.
Lembro-me das folhas
Paradas nas suas deliberações
E depois o inverno.
Lembro-me da chuva com o seu feixe de estradas.
A chuva conduzindo todas as suas ruas.
A lugar algum.
Jovem como eu, velha como eu.
Esqueço o amanhã, o homem cego.
Esqueço a vida entre janelas enterradas.
O olhar das cortinas.
A parede
Crescendo entre as perpétuas.
Esqueço o silêncio
O autor do sorriso.
Isto deve ser o que eu quis fazer.
Caminhar de noite entre os dois desertos,
Cantando.
(Versão inédita de António Ladeira; o original pode ser lido aqui).