domingo, 29 de maio de 2011

Juan Bonilla

uma imagem de cummings



uma imagem de cummings
não me deixa dormir

a vida é um velho que caminha
com a cabeça cheia de flores

a quem leva flores esse velho?

talvez a quem não foi capaz de ser
o primeiro da turma
ou o soldado heróico
ou o homem que jogou uma partida com o campeão do mundo de xadrez
o activista político
ou aquele que se apaixonou por Gabriela Sabatini

cruza-se com os túmulos
onde estão incritos os nomes do que não existe
deposita as flores frescas de luz e sangue
que leva à cabeça

escuta os latidos do futuro
que ficou já para trás

e segue até ao seu túmulo, o real

todo o passado sempre à sua frente



(Versão minha; poema do livro Cháchara, Renacimiento, 2010, pp. 55-56; talvez seja interessante confrontar este poema com o de cummings que explicitamente o desencadeia).

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