uma imagem de cummings
não me deixa dormir
a vida é um velho que caminha
com a cabeça cheia de flores
a quem leva flores esse velho?
talvez a quem não foi capaz de ser
o primeiro da turma
ou o soldado heróico
ou o homem que jogou uma partida com o campeão do mundo de xadrez
o activista político
ou aquele que se apaixonou por Gabriela Sabatini
cruza-se com os túmulos
onde estão incritos os nomes do que não existe
deposita as flores frescas de luz e sangue
que leva à cabeça
escuta os latidos do futuro
que ficou já para trás
e segue até ao seu túmulo, o real
todo o passado sempre à sua frente
(Versão minha; poema do livro Cháchara, Renacimiento, 2010, pp. 55-56; talvez seja interessante confrontar este poema com o de cummings que explicitamente o desencadeia).
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