A juventude passou.
Bem está o que acabou.
Não voltaria a ser jovem
nem que mo pagassem.
Pôr-me a andar de novo
pelo caminho trilhado
dos sonhos ilusórios
e das vagas verdades?
Começar outra vez
as velhas batalhas
e as suas velhas feridas?
Voltar às caminhadas
pela noite, pelo inferno,
ao gosto pela má
vida? Fazer de tudo,
que é comédia, um drama?
Voltar a alimentar-me
de mitos e falácias,
de modas e frenesim,
de palavras gastas?
Carregar aos ombros
a fastidiosa carga
de ser interessante,
original?... Que disparate!
Confiar, como ontem,
na vã esperança
de que tudo será
melhor amanhã?
Ter toda a vida
pela frente - tão longa -,
e o que já passou
não ser nem metade?
A juventude foi-se.
Fica bem o que acaba.
Não voltarei a ser jovem,
graças a Deus.
(Outubro, 1996)
(versão minha; poema do livro Variaciones y reincidencias, de 1997, que pode ser lido algures aqui).