[No século vinte viver não é...]
No século vinte viver não é tarefa fácil,
Pois cada instante é angustiante,
E o átomo pode ser dividido,
Pelo contrário a alma não se cindirá
Em duas partes ou em múltiplas
Partículas de substância vilipendiada.
Num mundo armado os versos
Permanecem alinhados ao lado dos mísseis.
Quando falam de guerras por terminar
Pronunciam palavras de mortal sacrilégio.
... No século vinte há que viver
Por aqueles que não puderam fazê-lo.
E sofrer uma dor multiplicada por vinte
Passando pelo tormento até à vigésima vez.
Pelos vinte há que arar a terra.
Pelos vinte há que carregar a tristeza.
Pelos vinte há que voar até ao céu
E trazer o conserto ao mundo:
Para que cada um viva um pouco mais por si mesmo
No futuro século vinte e um.
[1990]
(Versão minha. Fonte: Una iconografia del alma. Poesía ucraniana del siglo XX; prólogo, selecção e tradução de Iury Lech; Litoral/Edições UNESCO; Málaga, 1993, p. 186).