terça-feira, 31 de julho de 2018

Elmer Diktonius

Aforismos



(...)
Num homem a nacionalidade não é mais do que os restos de merda que pisou.
Homens, lavai os pés!

Aquele que não sente o odor da podridão hedionda desta sociedade já tem a podridão instalada no seu próprio nariz.

Não vêem que este neste mundo a verdade se converteu em luz artificial e a mentira em obscuridade natural.

Atirar borda fora tudo o que é velho não é ainda criar algo de novo. Mas significa estar no bom caminho.

Para que os críticos não esqueçam:
todas as verdades são verdades temporais: nascem, vivem e morrem.
Mas, apesar de tudo, há uma verdade eterna, uma lei eterna.
E diz assim: é a juventude que cria as verdades temporais.

Agarrei a força na minha mão.
Amei a força.
Nasceram aforismos.

Não sou um pensador, muito menos um filósofo (não quero apodos para um cavalo selvagem!).
Um homem: um coração e um cérebro.
Vivi e vi.



(Versão minha a partir da tradução castelhana Francisco J. Uriz, incluída em Cinco poetas finlandeses, Libros del Innombrable, Saragoça, 2014, pp. 60-64).

sábado, 21 de julho de 2018

Elmer Diktonius

Aforismos



(...)

A vós, artistas futuros, desejo-vos que tenhais um certo tipo de audácia: a revolucionária.
Aquela que vos faça preferir o salto mortal em busca de um sistema de valores desconhecido em vez de ficarem sentados na terra num lodo que fede a velho.

Não sei se é uma vergonha ou uma glória imperecível, mas é assim: são os escravos que criam as maiores canções de libertação.

Uma ferida que arde:
que a maioria dos artistas revolucionários em matéria de arte seja em relação às grandes questões do seu tempo conservadora; e que a maioria dos revolucionários nas questões do seu tempo seja conservadora na sua relação com a arte.

O mundo quer dormir.
Os artistas, os investigadores e os trabalhadores mantêm-no desperto.

Para que serve a filosofia se tudo gira em volta do estômago ou da parte inferior do ventre feminino!

Para os pequenos tudo é delírio de grandeza.

Só os pássaros domésticos têm ânsias. Os selvagens voam.

Escrevo porque sou débil.
Melhor seria arranjar um machado e avançar pelo mundo às cutiladas.

(...)


(Versão minha a partir da tradução castelhana de Francisco J. Uriz, incluída em Cinco poetas finlandeses, Libros del Innombrable, 2014, Saragoça, pp. 60-63).

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Elmer Diktonius

Aforismos



(…)

Eu não responsabilizo unicamente a sociedade actual pela humilhante situação em que se encontra a arte.
São os próprios artistas que têm a maior parte da culpa de todos os males da arte.

Por não derrubarem este manicómio.
Por não morderem - ainda que tenham dentes.

O público não entende bem a arte - e diz disparates ou sente-se mal.
Os estetas não a entendem - e escrevem livros sobre ela.
Portanto: muito mais perigosos.

Exigir a um artista que faça uma arte nacional é como exigir-lhe uma arte dourada ou acastanhada de acordo com a cor do seu cabelo.

Estilo, técnica - asas para voar.
Muitos dos que voam nas alturas são só asas.

Vós, artistas do futuro - vendei as asas e comprai antes umas boas botas, assim podereis caminhar com passo firme pela escabrosa superfície da terra.
Sede mais terrenos, assim os vossos cantos soarão mais celestiais!

Não é a arte que se deve popularizar.
É a necessidade da arte que se deve tornar popular.

(…)


(Versão minha a partir da tradução castelhana de Francisco J. Uriz, incluída em Cinco poetas finlandeses; Libros del Innombrable, 2014, saragoça, pp. 60-63).

terça-feira, 17 de julho de 2018

Elmer Diktonius

Aforismos



Não se deve procurar um substituto da vida na arte.
A arte não é um sucedâneo: é a vida viva.
Uma parte da vida.
Talvez a maior, a mais esplendorosa.
De qualquer modo: só uma parte.

Se o sentido da arte fosse o de nos adormecer, de nos fazer olvidar a vida, então a melhor obra de arte, a mais simples, seria uma martelada na cabeça.

Para estar viva, uma obra de arte não precisa de beleza; nem de fealdade.
Precisa de vida.

Chegar à arte pelo caminho dos estetas é contentar-se com ossos roídos. (E até que ponto roídos!)
Tu, homem, se tens dentes, morde!
(O grande não é para os desdentados.)

A única forma de falar de arte é falar com arte - criar.

Por que tem de vender o artista a sua arte?
Para poder viver.
Por que tem o público de comprá-la?
Para poder viver.

(...)


(Versão minha a partir da tradução castelhana de Francisco J. Uriz, incluída em Cinco poetas finlandeses, Libros del Innombrable, 2014, Saragoça, pp. 60-63).

domingo, 15 de julho de 2018

Henry Parland

"Tenho o costume de comer..."



Tenho o costume de comer.
Contra ele talvez
alguém objecte que todos os homens.
Mas é isso uma objecção?



(Versão minha a partir da tradução castelhana de Francisco J. Uriz inckuída em Cinco poetas finlandeses; Libros del Innombrable, 2014, Saragoça, p. 208).