domingo, 18 de fevereiro de 2018

Huseyín Ferad

A minha amante é uma loba da estepe (o nascimento da poesia)



A poesia é uma folha de erva
Eu sou um pastor.

O sopro da escuridão é Poesia
O inaudível grito de um morcego.

Uma estrela encostada ao meu coração
Chora quando desperta
Goteja resina oferecida pelas suas pestanas a arder.

A poesia é navegar pelos céus azuis
Eu sou um perdigão sinistro.

Impossível conhecer a cor das palavras
E a da minha língua.

A minha amante é um cisne
Cruzando o lago
Arrulha
E eu consumo-me com cio.

A poesia é a frescura do centeio
A rebeldia das formigas.

Desconheço a cor do meu rosto
A cor da minha língua.
A minha amante é uma loba da estepe.

Sou um corço
Os guarda-florestais perseguem-me
Quando ela uiva.

O sussurro da vida é poesia
O lamento da morte.



(versão minha a partir da tradução catelhana publicada em Poesía Contemporánea de la República de Turquía, tradução de Jaime B. Rosa e Metin Cengiz, Vision Libros, Madrid, 2013, pp. 61-62)