Ainda que soubéssemos agora
que a tua roupa não seria mais
necessária guardámo-la,
lá em cima, numa arca fechada.
Às vezes lá estou eu, ajoelhado,
segurando-a, tentando reviver
o tempo em que a usaste, recordar
o tamanho real de braços e pulsos.
As minhas mãos descem por dentro
de mangas invisíveis, vazias,
hesitam, depois exibem
amostras da memória:
um feriado verde, um baptismo vermelho,
todas as tuas vidas incompletas
definhando através dos verões sombrios,
entrando na minha cabeça como poeira.
(versão minha; original reproduzido em The Penguin Book of Contemporary British Poetry, selecção de Blake Morrison e Andrew Motion, Penguin Books, Middlesex, 1986, 5ª edição, p. 132.)