Verão e fumo
Já sabemos o que custa
vencer a resistência tenaz
de duas pernas unidas
o sabor
de um certo hálito amargou de madrugada
o ar nas nossas fauces
e o corpo descobriu-se amolecido ao despertar
ou triste fez queixas devido a um frio caído no esquecimento
e no entanto
mais de uma vez as árvores tornam-nos outonais,
a rua brilha debaixo da chuva amarela,
damos lume a um solitário que erra
pelo molhe
e assobiamos uma melodia
vulgar, já tarde, quando os veleiros
mentem sobre os portos ansiados e o ar
salino não pergunta
quem
quem não teme perder o que não ama?
(Versão minha; poema incluído em Poesía completa - Memoria y deseo (1963-2003); Visor, Madrid, 2018, p. 75).