A pergunta
"We are what is missing from the world"
Fernando Pessoa
Certas perguntas não têm resposta.
Depois de colocadas ficam suspensas na mente
Como bocas abertas, cheias de alguma coisa que se perdeu.
O grande poeta português, Pessoa,
Disse que a ideia de felicidade
É o que nos conduz a uma permanente tristeza.
O corpo, ao imaginar a alma,
Vê-se como horrível diante de si mesmo.
Um homem ouve uma palavra, e o mundo
Torna-se num sítio que ele não compreende.
De modo que, coberto de vergonha
Pelo que não sabe, ele ascende até à sua vida
E recusa-se a descer.
Se o pudéssemos convencer de novo
Seria possível dizer-lhe, digamos,
Que nada pode ser explicado.
A forma das maçãs, por exemplo,
Pela sua paixão de viajar.
Ou a cor azul do céu
Por ser mais acessível aos olhos.
Até o cão, ao perseguir a cauda,
Tem, durante algum tempo, um centro.
E mesmo o pássaro, quando desaparece no seu buraco,
Sabe que o mundo prossegue sem ele.
E Pessoa, esse homem eminentemente sadio,
Esse artista, usava um chapéu azul de feltro
Até nos dias mais quentes de verão.
Apenas para o atirar aos estranhos na rua.
Gostava de os ver a apanharem-no,
E a tornarem-se imediatamente menos estranhos.
(Versão minha; original incluído em What have you lost?; selecção de Naomi Shihab Nye, Greenwillow Books /HarperCollins, Nova Iorque, 2001, pp. 124-125).