Entre os meus amigos o amor é uma grande tristeza.
Tornou-se um fardo diário, um festim,
uma guloseima para loucos, uma fome para o coração.
Visitamo-nos uns aos outros perguntando, dizendo uns aos outros.
Não ardemos intensamente, questionamos o fogo.
Não caímos para a frente com os nossos rostos vivos
e ardentes a olhar para dentro do fogo.
Fixamente olhamos para dentro dos nossos próprios rostos.
Tornámo-nos as nossas próprias realidades.
Procuramos esgotar a nossa absoluta incapacidade de amor.
Entre os meus amigos o amor é uma questão dolorosa.
Procuramos entre os rostos que passam
a face da esfinge que apresentará o enigma.
Entre os meus amigos o amor é uma resposta a uma questão
que não chegou a ser colocada.
Por isso coloquemo-la.
Entre os meus amigos o amor é um pagamento.
É uma dívida antiga cujo valor foi gasto de uma forma idiota.
E continuamos a pedir emprestado uns aos outros.
Entre os meus amigos o amor é um salário
que qualquer um pode receber para ter uma vida honesta.
(Versão minha, recuperada, feita com a colaboração de C. e de C., e dedicada a J., a P.B. e a todos os leitores deste blogue; original reproduzido em City Lights Pocket Poets Anthology, organização de Lawrence Ferlinghetti, City Lights Books, São Francisco, 3ª edição, 1997, p. 44).