Um caracol sobe pelo peitoril da janela
e introduz-se no teu quarto, depois de uma noite de chuva.
Chamas-me para o ver, e eu explico-te
que seria pouco simpático deixá-lo ali:
poderia arrastar-se pelo soalho, temos de evitar
que alguém o esmague. Compreendes-me
e, com mão cuidadosa, leva-lo lá para fora
para que coma um narciso.
Vejo, depois, como uma espécie de confiança subsiste:
a tua gentileza é ainda moldada pelas palavras
que eu digo, eu - que apanhei ratos com ratoeiras e disparei contra aves selvagens,
eu - que afoguei os teus gatinhos, que traí
os teus familiares mais póximos
e distribuí as mais duras verdades por muitos outros.
Mas é assim que as coisas são: eu sou a tua mãe
e nós somos gentis com caracóis.
(Versão minha; original reproduzido em Good poems for hard times, selecção e introdução de Garrison Keillor, Viking, Nova Iorque, 2005, p. 12).
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