Consolo
Darwin.
Dizem que para descansar lia romances.
Mas tinha as suas exigências:
não podiam terminar de forma triste.
Se acontecia dar com algum assim,
furioso atirava-o ao fogo.
Verdade ou não,
acredito nisto com gosto.
Percorrendo com o pensamento tantas regiões e tempos
encontrou-se com tantas espécies mortas,
com tantos triunfos dos fortes sobre os mais débeis,
com tantas tentativas de sobrevivência,
mais tarde ou mais cedo inúteis,
que ao menos da ficção
e da sua microescala
tinha o direito de esperar um final feliz.
Pelo que, necessariamente: um raio de luz entre as nuvens,
amantes de novo juntos, linhagens que se reconciliam,
dúvidas resolvidas, fidelidades premiadas,
fortunas recuperadas, tesouros encontrados,
vizinhos arrependidos dos seus rancores,
a honra recuperada, a cobiça ridicularizada,
solteironas casadas com reverendos pastores,
intriguistas desterrados para o outro hemisfério,
falsificadores de documentos lançados pelas escadas abaixo,
sedutores de donzelas a caminho do altar,
órfãos acolhidos, viúvas reconfortadas,
soberbas humilhadas, feridas fechadas,
filhos pródigos chamados à mesa,
o cálice da amargura derramado no mar,
lenços húmidos de lágrimas de perdão,
cantos e música por todos os lados;
e Fido, o cão,
perdido logo no primeiro capítulo,
que corra de novo para casa
e ladre alegremente!
(Versão minha a partir da tradução castelhana de Gerardo Beltrán incluída em Dos puntos, Ediciones Igitur; prólogo de Ricardo Cano Gavíria; traduções de Abel A. Murcia Soriano e Gerardo Beltrán; Saragoça, 2007, pp. 42-44)