Chamo-me Sofía
e desde pequena
tenho ouvido que é nome
de rainha.
Chamo-me Sofía
como os passos obscuros da minha avó
antes que um comboio me deixasse só
um nome
e um vazio
na memória.
Chamo-me Sofía
igual a conhecimento,
recordam-no aqueles que sabem três
palavras de grego e têm
muito pouco que contar.
Chamo-me Sofía
e nunca me dizem
como Coppola, como Marceau,
como a de Kill Bill
aquela a quem cortaram os dois braços.
E desculpo-me
por não ter um Jostein Gäarder
no meu mundo, por não
querer estar na ribalta, por não
ter da Bulgária mais do que um postal
que não era para mim.
Chamo-me Sofía
e desde pequena tenho ouvido
que é nome
de rainha e também
que por aqui chove muito
e que antes se lia mais
e que as crianças já não sabem brincar
e tantas outras
conversas de café. Por isso
para evitarmos
tanto tópico
e tanto discurso monárquico
queria chamar-me
de vez em quando
Dolores, Virgínia, Marguerite
e falar também
de revolução.
(versão minha; original reproduzido em 23 Pandoras - poesia alternativa española, selecção e prólogo de Vicente Muñoz Álvarez, Ediciones Baile del Sol, 2ª edição, Tenerife, 2009, pp. 37-38).