Há alguma coisa mais triste do que um combóio
Que parte à hora certa,
Que só tem uma voz,
Que só tem uma via?
Não há nada mais triste do que um combóio.
Só talvez um cavalo de tiro.
Debaixo do governo das rédeas
Nem sequer pode olhar para o lado.
A sua vida é caminhar.
E um homem? Não é triste um homem?
Se vive largo tempo na solidão,
Se pensa que chegou a sua hora,
Também um homem é uma coisa triste.
17 Janeiro 1946
(Versão minha, a partir da tradução inglesa de Ruth Feldman e Brian Swann, reproduzida em Collected poems, Faber and Faber, 2ª edição, Londres, 1992, p. 11, e da tradução espanhola de Jeannette L. Clariond, reproduzida em A una hora incierta, La poesía, señor hidalgo, Barcelona, 2005, p.37).