Esta
Esta cabeça sem dúvida vai matar-me.
Não pára de pensar.
Expliquei-lhe mil vezes a inutilidade dos pensamentos,
demonstrei-lhe as razões para desesperar,
mas ela não pára de pensar.
Digo-lhe: está bem,
pensaremos até que o pensamento se esgote.
Então ela adormece por fim apesar de si mesma,
e acorda manhã cedo,
acende um cigarro, toma o café antes de mim
e recorda as histórias de ontem e os pensamentos de ontem.
Lavo-a, e continua a pensar.
Penteio-a, e continua a pensar.
Envio-a ao barbeiro, e continua a pensar.
Mas quando quero pensar num problema que me extenua
ou em alguma coisa que me interessa,
ela geme de dor como se lhe estivesse a bater com um machado.
Esta cabeça vai matar-me.
(Versão minha a partir da tradução espanhola de Joumana Haddad reproduzida em Allí donde el río de incendia - Antología libanesa moderna, Norteysur, Málaga, 2005, pp. 39-40).