Números grandes
Oh belas lançadoras nórdicas do martelo
- um metro e oitenta e quatro e noventa e seis quilos -,
com esses intrincados apelidos viquingues
e essas tranças albinas presas com lacinhos
cor de rosa que trazem um toque feminino
à vossa imensidade, na qual adivinho
um coração de menina, inocente e sensível,
empapado pelo romantismo mais doce.
Oh vénus XL, com que deleite vejo
como o martelo voa, acompanhado pelo vosso grito
de mulheres guerreiras de um velho tempo mítico;
e com que graça enorme vos retirais do círculo
de volta ao sorriso e ao sentimentalismo.
Que feliz há-de ser aquele a quem o destino
atribuiu a sorte de ser o vosso marido,
que prazer lhe dará, nos silêncios íntimos,
ser abraçado por esses braços, rendidos
à ternura, e (tenho a certeza de que agora
algum ou alguma imbecil me acusará de machismo)
ver noventa e seis quilos de mulher submetidos
à secreta força do amor.
Invejo-o a ele
tanto como a vós, valquírias, vos admiro.
É a vossa formosa imagem o motivo principal
pelo qual, de quatro em quatro anos, fervoroso, sigo
todas as transmissões dos jogos olímpicos.
24-X-2020
(Versão minha; Viaje de invierno; Renacimiento, Sevilha, 2021, pp. 27-28)