domingo, 22 de abril de 2012
Entre a carne e o osso
Luís Filipe Parrado, Entre a carne e o osso, Língua Morta, Lisboa.
[com capa de Inês Dias,
150 exemplares, 68pp., 9€]
pedidos: edlinguamorta@gmail.com
terça-feira, 17 de abril de 2012
Cristina Morano
Fabricante de armas
(Transcrição de uma conversa real gravada com
câmara oculta para uma reportagem da BBC)
E esta outra arma que aqui tenho,
dada a sua forma alongada e de fácil
manejo, pode ser utilizada
como um eficaz objecto contundente
para dispersar multidões.
Além do mais numa das pontas
incorpora uma bateria
que, accionada por este botão,
produz uma descarga feroz
de cada vez que se golpeia;
ou, se o desejar, o artefacto
pode introduzir-se na vagina
e, a partir daí, electrocutar,
sem as velhas complicações
dos instrumentos clássicos
similares no mercado.
Não tenham
receio de perguntar o preço.
(Transcrição de uma conversa real gravada com
câmara oculta para uma reportagem da BBC)
E esta outra arma que aqui tenho,
dada a sua forma alongada e de fácil
manejo, pode ser utilizada
como um eficaz objecto contundente
para dispersar multidões.
Além do mais numa das pontas
incorpora uma bateria
que, accionada por este botão,
produz uma descarga feroz
de cada vez que se golpeia;
ou, se o desejar, o artefacto
pode introduzir-se na vagina
e, a partir daí, electrocutar,
sem as velhas complicações
dos instrumentos clássicos
similares no mercado.
Não tenham
receio de perguntar o preço.
(Versão minha; o original aparece reproduzido em La manera de recogerse el pelo - Generación blogger, selecção de David González; prólogo de José Ángel Barrueco, Bartleby, Madrid, 2010, p. 219).
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Ali Podrimja
Se
Se um povo
Não tem poetas
Nem poesia própria
Para uma Antologia Nacional
Então a traição e o ladrar
Hão-de servir.
Se um povo
Não tem poetas
Nem poesia própria
Para uma Antologia Nacional
Então a traição e o ladrar
Hão-de servir.
(versão minha a partir da tradução inglesa de Robert Elsie e Janice Mathie-Heck reproduzida em Lightning from the depths - An anthology of albanian poetry, Northwestern University Press, Evanston/Illinois, 2008, p. 208).
terça-feira, 10 de abril de 2012
Girolamo de Rada (1814 -1903)
Pode um beijo ser mais doce?
Era uma manhã de domingo
E o filho da nobre senhora
Foi visitar a bela donzela
Para lhe pedir uma gota de água,
Pois morria de sede.
Encontrou-a sozinha à lareira
A entrançar o cabelo.
Amavam-se, mas nenhuma palavra de amor foi trocada,
A jovem tinha um sorriso nos lábios:
"Por que tens de te ir como o vento?"
"Aguardam-me para o lançamento do disco."
"Espera só um pouco, guardei
Duas maçãs maduras para ti."
Segurando o cabelo penteado
Com uma das mãos erguida
Sobre a pele pálida das orelhas,
Ela mergulhou a outra no seu corpete
E tirou as maçãs,
Colocando-as nas mãos dele,
Ruborizando de vergonha.
Dizei-me, ó apaixonados,
Pode um beijo ser mais doce?
Era uma manhã de domingo
E o filho da nobre senhora
Foi visitar a bela donzela
Para lhe pedir uma gota de água,
Pois morria de sede.
Encontrou-a sozinha à lareira
A entrançar o cabelo.
Amavam-se, mas nenhuma palavra de amor foi trocada,
A jovem tinha um sorriso nos lábios:
"Por que tens de te ir como o vento?"
"Aguardam-me para o lançamento do disco."
"Espera só um pouco, guardei
Duas maçãs maduras para ti."
Segurando o cabelo penteado
Com uma das mãos erguida
Sobre a pele pálida das orelhas,
Ela mergulhou a outra no seu corpete
E tirou as maçãs,
Colocando-as nas mãos dele,
Ruborizando de vergonha.
Dizei-me, ó apaixonados,
Pode um beijo ser mais doce?
(Versão minha a partir da tradução inglesa reproduzida em Lightning from the depths - An anthology of albanian poetry, organização e tradução de Robert Elsie e Janice Mathie-Heck, Northwestern University Press, Evanston/Illinois, 2008, p. 71).
sábado, 7 de abril de 2012
Fabián Casas
Sem chaves e às escuras
Era um desses dias em que tudo corre bem.
Tinha limpado a casa e escrito
dois ou três poemas que me agradavam.
Não pedia mais.
Então saí para o patamar para deitar o lixo fora
e, atrás de mim, com uma corrente de ar,
a porta fechou-se.
Fiquei sem chaves e às escuras
sentindo as vozes dos meus vizinhos
através das suas portas.
É passageiro, disse para mim;
no entanto também a morte poderia ser assim:
um patamar escuro,
uma porta fechada com a chave do lado de dentro,
o lixo na mão.
(Versão minha, o original pode ser lido algures por aqui).
Era um desses dias em que tudo corre bem.
Tinha limpado a casa e escrito
dois ou três poemas que me agradavam.
Não pedia mais.
Então saí para o patamar para deitar o lixo fora
e, atrás de mim, com uma corrente de ar,
a porta fechou-se.
Fiquei sem chaves e às escuras
sentindo as vozes dos meus vizinhos
através das suas portas.
É passageiro, disse para mim;
no entanto também a morte poderia ser assim:
um patamar escuro,
uma porta fechada com a chave do lado de dentro,
o lixo na mão.
(Versão minha, o original pode ser lido algures por aqui).
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