O construtor arrasa casas,
o médico promove a morte
e o comandante dos bombeiros
é o chefe secreto dos pirómanos,
eis o que nos mostra a dialéctica inteligente -
e a bíblia diz-nos algo de parecido:
quanto mais se sobe maior é a queda
e o último será o primeiro.
O vizinho tem uma espingarda carregada em casa,
um microfone debaixo da cama
e a filha é uma informadora.
Com um ataque o vizinho vai-se abaixo,
a ligação do microfone falha,
a filha acaba por confessar.
Toda a gente se disfarça de cordeiro
quando se esgueira da caverna do ciclope.
Vinda da tenda do circo
ouço na noite música desafinada,
os sonâmbulos caminham no arame
oscilando com os seus braços indecisos,
cá de baixo os amigos gritam-lhes
para os libertarem do sono,
pois aquele que sobe deve cair
e aquele que dorme - deixem-no dormir mais profundamente.
(Versão minha a partir da tradução inglesa de Michael Scammell e Veno Taufer reproduzida em The poetry of survival - Post-war poets of central and eastern europe, organização de Daniel Weissbort, Peguin Books, 2ª edição, Londres, 1993, pp. 49-50).
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