A cotovia de Shelley
Traduzido de Thomas Hardy
Em algum lugar olvidado, longe daqui,
entregue a uma terra esquecida e cega,
jaz o que inspirou o canto de um poeta:
um montinho de pó ignorado e perdido;
o pó da cotovia que Shelley escutou
e que imortalizou sobre todos os tempos
- ainda que tenha vivido o mesmo que outro pássaro
qualquer e não tenha sabido da sua imortalidade -.
Viveu a sua leve vida, e caiu um dia
- apenas uma porção de penas e ossinhos -,
e como pereceu, quando cantou a sua despedida
ou onde se desfez são coisas ignoradas.
Talvez repouse neste barro que contemplo agora,
talvez palpite no verdor de alguma murta
ou durma na cor emergente de uma baga
das ladeiras de uma paisagem remota.
Ide procurá-la, fadas, e trazei
essa pisca de pó inestimável,
e fazei de prata um cofre guarnecido
com ouro e pedras preciosas engastadas,
e nele guardaremos, preservada,
e para sempre a veneraremos
porque permitiu que um bardo conquistasse,
com pensamento e música, as alturas do êxtase.
(Versão minha; poema incluído em La imgen de su cara, Editorial Comares, Granada, 1994, pp. 46-47).
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