quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Rafael Felipe Oteriño

 A partir desta idade



A partir desta idade vê-se tudo:
vê-se a margem impetuosa,
vê-se o fulgor das colinas,
vê-se o pátio onde tudo acontece,
vêem-se as portas que ninguém abre,
vêem-se os desertos que ninguém celebra;
vê-se o mar e vê-se a espuma do mar,
vê-se o rio que vem da infância,
vêem-se as nuvens correndo leves mais além,
vê-se a lua e o esplendor da caverna
- o cume como um pensamento inacabado - 
vê-se o centro do mundo sem se mudar de lugar,
vê-se por cima e por baixo, à direita e à esquerda, com os olhos fixos,
e vêem-se nítidos, feitos de espanto e liberdade,
os nossos pés desnudos no ar
sem encontrarem nunca a terra firme que procuram.



(Versão minha. Fonte: Nueva poesía argentina; selecção e introdução de Leopoldo Castilla, Hiperión, Madrid, 1987, p. 63).

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