sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Roque Dalton

 O descanso do guerreiro



A cada dia que passa os mortos estão mais indóceis.

Antes com eles era fácil:
dávamos-lhes um colarinho engomado com uma flor
louvávamos-lhes os nomes numa longa lista:
pois que os gabinetes da pátria
pois que as sombras notáveis
pois que o mármore monstruoso.

O cadáver assinava em nome da memória
punha-se de novo na fila
e marchava ao compasso da nossa velha música.

Mas algo aconteceu
os mortos
são outros desde então.

Agora mostram-se irónicos
perguntam

Parece-me que se deram conta
de que são cada vez mais a maioria!



(Versão minha; poema incluído em Nuestra poesía en el tiempo (uma antología); selecção e prólogo de Antonio Colinas; Siruela, Madrid, 2009, p.597).

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