Caríssimos leitores,
Este blogue faz 4 anos no próximo dia 4 de fevereiro. Gostava de comemorar a data convosco e, por isso, convido-vos a enviarem-me comentários sobre a tradução de poesia ou sobre este blogue, listas de poemas e de poetas preferidos, sugestões de leitura, críticas, traduções, desenhos, fotografias, em suma, o que entenderem que faz sentido publicar num blogue com as características deste. Tenciono publicar o que me enviarem para a caixa do correio ao longo da presente e da próxima semana.
Obrigado.
E um abraço para todos,
LP.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
Angel Erro
LXXV
Chegará um dia
em que todos admirarão
a tua obra, com maíúsculas,
A Tua Obra, que hoje desprezam
- ou que ousam até ignorar -,
e se arrependerão
por te terem conhecido tarde demais.
Assim suportas a vida.
Ou suportas assim a morte?
(versão minha a partir da tradução para espanhol do autor reproduzida em Un puente de palabras - 5 jovénes poetas vascos, selecção e organização de Jon Kortazar, Centro de Lingüística Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p. 131).
Chegará um dia
em que todos admirarão
a tua obra, com maíúsculas,
A Tua Obra, que hoje desprezam
- ou que ousam até ignorar -,
e se arrependerão
por te terem conhecido tarde demais.
Assim suportas a vida.
Ou suportas assim a morte?
(versão minha a partir da tradução para espanhol do autor reproduzida em Un puente de palabras - 5 jovénes poetas vascos, selecção e organização de Jon Kortazar, Centro de Lingüística Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p. 131).
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Claes Andersson
Não se preocupam com os meios
Tem cuidado com aquele que diz representar
a voz de muitos.
Talvez seja verdade.
Tem cuidado com aquele que diz que fala
apenas em seu nome.
Talvez seja verdade.
Tem cuidado com aquele que se limita a consentir
com a cabeça.
Amanhã o consentimento pode afectar-te a ti.
Tem cuidado com aqueles que só querem viver
a sua vida em paz.
Não se preocupam com os meios.
(Versão minha a partir da tradução espanhola de Francisco J. Uriz reproduzida em Poesía nórdica, Ediciones de la Torre, 2ª edição, Madrid, 1999, p. 180).
Tem cuidado com aquele que diz representar
a voz de muitos.
Talvez seja verdade.
Tem cuidado com aquele que diz que fala
apenas em seu nome.
Talvez seja verdade.
Tem cuidado com aquele que se limita a consentir
com a cabeça.
Amanhã o consentimento pode afectar-te a ti.
Tem cuidado com aqueles que só querem viver
a sua vida em paz.
Não se preocupam com os meios.
(Versão minha a partir da tradução espanhola de Francisco J. Uriz reproduzida em Poesía nórdica, Ediciones de la Torre, 2ª edição, Madrid, 1999, p. 180).
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Eila Kivikkaho
Ocultar o mais íntimo
Como um insecto
imóvel no ramo
quero semear
algo que ninguém
procure, veja, persiga.
Como um insecto
imóvel no ramo
quero semear
algo que ninguém
procure, veja, persiga.
(Versão minha a partir da tradução espanhola de Francisco J. Uriz reproduzida em Poesía nórdica, Ediciones de la Torre, 2ª edição, Madrid, 1999, p. 97).
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Lisel Mueller
Às vezes, quando a luz
Às vezes, quando a luz cria ângulos inesperados
e te empurra de novo para a infância
e tu passas perto de uma mansão decadente
escondida por completo por salgueiros centenários
ou junto de um convento abandonado e guardado por abetos
e uma linha de pinheiros gigantes alinhados
percebes mais uma vez que por trás desse muro,
debaixo da crespa cabeleira dos salgueiros,
continua a existir um segredo
tão maravilhoso e perigoso
que se rastejares e o descobrires
podes morrer, ou então ser feliz para todo o sempre.
(Versão minha; o original pode ser lido aqui).
Às vezes, quando a luz cria ângulos inesperados
e te empurra de novo para a infância
e tu passas perto de uma mansão decadente
escondida por completo por salgueiros centenários
ou junto de um convento abandonado e guardado por abetos
e uma linha de pinheiros gigantes alinhados
percebes mais uma vez que por trás desse muro,
debaixo da crespa cabeleira dos salgueiros,
continua a existir um segredo
tão maravilhoso e perigoso
que se rastejares e o descobrires
podes morrer, ou então ser feliz para todo o sempre.
(Versão minha; o original pode ser lido aqui).
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Angel Erro
X
Tudo está dito, desde há muito.
Que tudo está dito já está dito.
Tudo está dito, pois, sem emenda.
Tudo está dito, mas não por mim.
Tudo está dito, desde há muito.
Que tudo está dito já está dito.
Tudo está dito, pois, sem emenda.
Tudo está dito, mas não por mim.
(Versão minha da tradução para espanhol do autor reproduzida em Un puente de palabras - 5 jóvenes poetas vascos, selecção de Jon Kortazar, Centro de Lingüística Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p. 125).
domingo, 15 de janeiro de 2012
Castillo Suarez
Um romance tem demasiadas palavras
Um romance tem demasiadas palavras. Por isso escrevo poemas. Como se fazer poemas não fosse suficiente, perguntam-me por que o faço. Escrevo porque minto. Porque sou mentirosa e porque exagero as coisas. Se não exagerasse as coisas, ninguém acreditaria em mim.
Os poemas perdem-se sem trégua, perdem-se dia após dia porque ninguém os guarda, porque ninguém os escreve. Eu sou uma caçadora de poemas; não sou uma escritora.
(Versão minha a partir da tradução para espanhol da autora reproduzida em Un puente de palabras - 5 jóvenes poetas vascos, selecção de Jon Kortazar, Centro de Lingüistica Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p. 89).
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Igor Estankona
A serpente
É por isso que cheguei a casa antes do previsto
e por isso subi as escadas
sigiloso
e é por isso que abri a porta
com a cópia da chave
que julgavas que eu não tinha
é por isso que viraste as costas
e me escapaste dos braços
com a destreza das trutas
é por isso que te passei uma rasteira
e caímos
os dois
ao chão
é por isso
que não fiz caso
quando entre risos me insultaste
é por isso que te desabotoei
os botões das calças
é por isso
que rocei os teus lábios
e tu abriste a boca
como se vão abrindo enquanto ardem
as rosas ou as bolas de papel
é por isso que apaguei a luz
é por isso que fiz tudo tão depressa:
para que não tivesses tempo
de preparar a tua defesa.
É por isso que cheguei a casa antes do previsto
e por isso subi as escadas
sigiloso
e é por isso que abri a porta
com a cópia da chave
que julgavas que eu não tinha
é por isso que viraste as costas
e me escapaste dos braços
com a destreza das trutas
é por isso que te passei uma rasteira
e caímos
os dois
ao chão
é por isso
que não fiz caso
quando entre risos me insultaste
é por isso que te desabotoei
os botões das calças
é por isso
que rocei os teus lábios
e tu abriste a boca
como se vão abrindo enquanto ardem
as rosas ou as bolas de papel
é por isso que apaguei a luz
é por isso que fiz tudo tão depressa:
para que não tivesses tempo
de preparar a tua defesa.
(Versão minha a partir da tradução para espanhol de Jon Kortazar reproduzida em Un puente de palabras - 5 jóvenes poetas vascos, selecção de Jon Kortazar, Centro de Lingüística Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p.p. 97-99).
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Castillo Suarez
Toda a dor do mundo
As coisas que não fazem parte da tua experiência são quase invisíveis. Mais ainda, quando algo de novo se incorpora na tua realidade é como se não houvesse mais nada em redor. Mas é impossível tentar compreender toda a dor do mundo. É impossível; tanto como amar duas vezes a mesma pessoa.
(Versão minha a partir da tradução para espanhol da autora reproduzida em Un puente de palabras - 5 jóvenes poetas vascos, selecção de Jon Kortazar, Centro de Lingüistica Aplicada Atenea, edição bilingue euskera/espanhol, Madrid, 2005, p. 93).
domingo, 8 de janeiro de 2012
Artur Miedzyrzecki
O que é que os politólogos sabem?
O que é que os politólogos sabem?
Os politólogos sabem quais são as últimas tendências
Qual o estado actual da economia
A história das doutrinas
O que é que os politólogos não sabem?
Os politólogos não sabem nada de desespero
Não conhecem o jogo que consiste
Em ficar fora de jogo
Não lhes ocorre
Que ninguém sabe quando
É que as mudanças irrevogáveis podem acontecer
Por exemplo um banco de gelo que se parte de repente
E sabe-se como os recursos naturais
Incluem o conhecimento das leis veneráveis
A capacidade de surpreender
O sentido de humor
O que é que os politólogos sabem?
Os politólogos sabem quais são as últimas tendências
Qual o estado actual da economia
A história das doutrinas
O que é que os politólogos não sabem?
Os politólogos não sabem nada de desespero
Não conhecem o jogo que consiste
Em ficar fora de jogo
Não lhes ocorre
Que ninguém sabe quando
É que as mudanças irrevogáveis podem acontecer
Por exemplo um banco de gelo que se parte de repente
E sabe-se como os recursos naturais
Incluem o conhecimento das leis veneráveis
A capacidade de surpreender
O sentido de humor
(Versão minha a partir da tradução inglesa de Stanilslaw Baranczak e Clara Cavanagh reproduzida em The poetry of survival - Post-war poets of central and eastern europe, organzação de Daniel Weissbort, Peguin, 2ª edição, Londres, 1993, p. 194).
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Karmelo C. Iribarren
Ainda ontem
Parece que foi
ontem
que ainda sonhávamos
com a revolução,
e hoje estamos assim:
balofos,
meio carecas, cínicos,
e com problemas
de colestrol.
(Versão minha; original reproduzido em Seguro que esta historia te suena - Poesía completa (1985-2005), Renacimiento, Sevilha, 2005, p. 215).
Parece que foi
ontem
que ainda sonhávamos
com a revolução,
e hoje estamos assim:
balofos,
meio carecas, cínicos,
e com problemas
de colestrol.
(Versão minha; original reproduzido em Seguro que esta historia te suena - Poesía completa (1985-2005), Renacimiento, Sevilha, 2005, p. 215).
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Eila Kivikkaho
Na noite
Oiço - como poderia não o ouvir -:
o pássaro, o pássaro dos pássaros.
A árvore e a erva querem dormir.
Acende-se uma estrela, desperta o coração
e canta o pássaro dos pássaros.
Oiço - como poderia não o ouvir -:
o pássaro, o pássaro dos pássaros.
A árvore e a erva querem dormir.
Acende-se uma estrela, desperta o coração
e canta o pássaro dos pássaros.
(Versão minha a partir da tradução espanhola de Francisco J. Uriz reproduzida em Poesía nórdica, Ediciones de la Torre, 2ª edição, Madrid, 1999, p. 96).