Futebolista
Se soubesse o que sei hoje, futebolista.
Um desportivo foleiro e uma loira
ainda mais foleira à saída
dos treinos. Um brinco
na orelha esquerda e uma franja
tenaz que cai e volta a cair sobre os olhos
e que desvio - que pinta! - com esse gesto
que até os putos imitam...
Enfim, vida
da boa, anúncios, golos, entrevistas,
uma vasta mansão, autógrafos e coisa e tal...
Juro-o: futebolista. Não estes versos
ordinários e prosaicos. Não estes anos
filhos da mãe. Nem as conjecturas. Nem esperar
que nunca nada aconteça...
E não
poeta, não, não!, sobretudo nada de poeta,
antes outra coisa qualquer em vez deste tótó
que se põe a olhar para o que faz: a lamentar-se muito
de si mesmo, a exibir a roupa suja,
este striptease grotesco, que vergonha.
(Versão minha; original reproduzido em Feu de erratas, Renacimiento, Sevilha, 1997, pp. 49-50).
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