quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Miron Bialoszewski (1922-1983)

Auto-retrato com alegria




Não pensem que sou infeliz.
Alegro-me por pensar.
Pensem que sou alegre.

A consciência é uma dança alegre.
A minha consciência dança
          diante da candeia da chuva
          diante das ruínas do muro
          diante do armazém de comida repleto de cabeças de couve
          diante das bocas dos meus amigos que falam
          diante da minha própria mão inesperada
          diante da escultura inacabada da realidade -
Na sumptuosidade do mais belo jogo
e da elevação do sacrifício religioso
idissoluvelmente
a minha consciência dança.

E quando a dança se interromper
como todos os flocos
irei para o céu -
onde nada se sente,
onde estava no princípio, antes de nascer,
onde estarei até ao fim, quando já não existir mais,
ali - que alegria indescritível.

...
É tudo.



(Versão minha a partir da tradução francesa reproduzida em Vingt-quatre poètes polonais; tradução de Georges Lisowski, Éditions dum Murmure, Neully-lès-Dijon, 2003, pp. 74-75).


1 comentário:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.