Milton, o meu primo
Milton, o meu primo, trabalhou numa empresa de telecomunicações.
O rapaz que eu conheci quando éramos crianças
mostrava muitas vezes os punhos cerrados, o rosto com o aspecto
de um homem velho cuja vida foi tão dura
que o endureceu. Mas as mãos do homem abriram-se para acolher
mais mundo dentro de si. Ele enviava os cartões de Natal
mais divertidos para a família e os amigos, estendendo
cabos para que outros pudessem conectar-se. Porém,
viveu sozinho, isolando-se na maior parte do tempo, de tal forma
que, quando a sua irmã encontrou o seu corpo, já ele tinha
partido há muito. Morreu novo, aos cinquenta e sete, sem
espalhafato nem incómodo. Ninguém junto ao seu leito
ou dando-lhe sopa à boca. Limitou-se a ficar estendido como
um cabo que deixa o sinal passar através dele.
(Versão minha; original aqui).
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