Os velhos professores
Os velhos, velhíssimos, professores
que foram brilhantes e autoritários,
agora, reformados,
arrastam pelas ruas
os corpos e os dias.
Resistem à morte
até não haver dúvidas
sobre como um ser humano pode ver deteriorados
o corpo e a mente.
Cada vez mais lentos e encurvados,
os velhos professores
quase afónicos e vacilantes,
surdos, com um sorriso pateta,
coléricos só de vez em quando,
cada vez mais desastrados dentro da roupa
com nódoas, desabotoados.
A dignidade que haviam encarnado
quando se sentavam na sua cátedra
a ensinar a juventude florescente
foi toda para o galheiro.
Não sabem já o que fazer
e procuram entreter-se com as pessoas,
com o primeiro que encontram,
ainda que seja o menos adequado
à sua condição e idade;
mas todos lhes viram as costas.
Os velhos, velhíssimos, professores
vagueiam como espantalhos do futuro
diante dos seus colegas mais jovens,
destinados a continuar, como vêem,
o caminho do ser humano.
Até eles deverão conseguir
a morte por um alto preço.
(Versão minha; poema incluído na Antología de la poesía suiza contemporánea; selecção e tradução de Manuel Jurado; Editorial Aguaclara, Alicante, 1992, pp. 62-63).
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.