Sou o extravagante poeta Hans Morgenthaler.
Exacto! O primo de Ernest, o conhecido pintor.
Tenho restos de sopa no casaco
E gotas nasais no colarinho da camisa;
Noutras circunstâncias, vida minha, oferecer-te-ia
O meu amor, mas na minha absoluta pobreza
Não me é lícito fazê-lo.
Vivo na Suíça italiana,
Onde algumas vezes faz muito calor no verão.
Encurralado entre um rabisco
E um piano eléctrico,
Numa casa ruidosa virada a sul, abrasada pelo sol.
Estou à espera na minha vida, com uma interminável e tensa paciência,
De uma mudança favorável
Que nunca chega.
De cada vez que, para lá da persiana,
Passa um dia quente
E abro a janela, feliz, ao ar fresco da tarde,
Para trabalhar um bocadinho na minha mesa,
Ou com um cansaço de morte dormir um pouco,
Aparece um desses: um paquete, um moço de fretes ou um aprendiz de barbeiro,
Enfia uma moeda na jukebox
E começa a ouvir a endemoninhada canção Valência...
Levo uma vida de cão!
Assim nunca me curarei!
Assim se vive na Suíça livre:
Na mais terrível estreiteza e sem vender um único livro!
Ando pelos quarenta
E cada dia que passa sou mais pobre
Como se possuísse o meu próprio tesouro!
Não comi nada esta noite
E assim posso economizar algum para um envelope e um selo.
Tenho de escrever à minha nova admiradora,
Uma senhora de setenta anos
Que, salvo os portes de envio, não me custa nada
E vive num lar.
(Versão minha a partir da tradução espanhola incluída na Antología de la poesía suiza contemporánea; selecção e tradução de Manuel Jurado, Editorial Aguaclara, Alicante, 1992, pp.89-90).
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