O nosso vizinho
Todas as famílias que viviam no nosso pátio
tinham uma carrinha de caixa aberta
com um autocolante do sindicato na traseira
e, em miúdo, eu admirava-as
tal como, julgava, os nossos soldados
deviam ter admirado Patton
e os tanques Sherman.
Uma vez disseste-me
que os russos não conseguiriam conquistar-nos,
não com cidades como as nossas,
cheias de ferro e de trabalhadores temperados
pelos fornos das fundições e das fábricas.
Não foram os russos que vieram;
foi o contrato, a greve,
as sucessivas dispensas que foram rebentando
até que chegou a tua vez.
Continuo a lembrar-me de ti
a carregares as coisas para partires,
o autocolante do sindicato raspado
com uma espátula,
as pontas da lona branca estendida
sobre a caixa da carrinha
a adejar enquanto te afastavas.
(Versão minha; original reproduzido aqui).
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