A minha vida como estalinista
"Lacaio do capitalismo!",
gritei eu para o meu pai por cima da mesa do jantar,
durante uma discussão sobre a viabilidade
do Segundo Plano Quinquenal,
ou o regresso de Fianna Fáil ao governo,
ou o meu desgraçado relatório escolar
- ou, provavelmente, por causa de todos estes assuntos.
A conversa engasgou-se num impasse
e, por alguns momentos, fez-se silêncio.
A reacção do meu pai foi uma gargalhada,
própria de quem sabia muito bem que eu só em parte
alcançava o significado do mal direcionado insulto.
"Tens jeito para os "slogans", meu rapaz,
mas tens de aprofundar um pouco mais
as leituras que os sustentam."
"Melhor ainda, volta ao teu amado Estaline
e estuda os seus volumosos ensaios
sobre estas questões e os seus métodos de lidar
com "reaccionários", "sabotadores" e "lacaios",
depois podes vir ter comigo
e chamar-me o que te apetecer".
(Versão minha; poema do livro My life as a stalinist; Southword, Cork, 2018, p. 24).
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