Entro num bar
e ouve-se o Ne me quitte pas
de um Jacques Brel
nostálgico e distante.
Peço uma cerveja,
acendo um cigarro
e penso mais uma vez
que deveria largá-lo.
Sem saber por quê
recordo-me de sessenta e oito
e da Paris de então.
Eu era todavia muito jovem
e não estive em Paris
em maio de sessenta e oito.
Não estive em Paris.
Ne me quitte pas...
Acendo outro cigarro
e lembro-me que a minha filha
anda pelos quinze
ou tem dezasseis, não sei.
Irrita-me esta cerveja quente,
o fumo, a luz tísica das lâmpadas,
os gritos desses miúdos,
o murmurinho das conversas,
o cheiro a cozinha e a fritos.
- Barman,
que a música não se oiça!
Este lugar deprime-me
e no entanto aguento.
(Versão minha; original reproduzido em Por vivir aquí - antologia de poetas catalanes en castellano (1980-2003), organização de Mnuel Rico, prólogo de Manuel Vásquez Montálban, Bartleby, Madrid, 2003, p. 32).
Pois é caro poeta..."e no entanto aguento"...mesmo assim, tantos dias!
ResponderEliminar~CC~