sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Kadyr Myrzá Alí

Os nossos ancestrais



Dizem: os nossos antepassados, que viviam a vida
Como se caminhassem sobre as chamas,
Tinham coisas boas e más:
O que era mau, andavam sem cessar em transumância,
O que era bom, as estepes livres maravilhavam-nos.
O que era mau, deixavam-se levar pela má-língua,
O que era bom, a sua linguagem era rica e cheia de matizes.
O que era mau, não sabiam usar a enxada,
O que era bom, sendo bons atiradores,
Manejavam com perfeição as suas lanças.
O que era mau, aprenderam tarde a ler e a escrever,
O que era bom, criaram belas kuis*.
O que era mau, vendiam as filhas em troca de gado,
O que era bom, roubavam as suas amadas.
O que era mau, não eram bons comerciantes,
O que era bom, não enganavam ninguém.
O que era mau, casavam com as noras,
O que era bom, não abandonavam as viúvas.
Com os vizinhos conviviam em harmonia.
Juntos sobreviviam ao frio, suportavam penúrias.
O mau é que não construíam casas.
O bom é que não erigiam prisões!



(*Kuis: género musical tradicional casaque estreitamente vinculado às crenças e rituais religiosos).

(Versão minha a partir da tradução castelhana de Alexandra Dergacheva e Iván Martín Cerezo incluída na Antología de la poesía moderna en Kazajstán; Visor, Madrid, 2020, p.14).

Sem comentários: