terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Agustín Delgado

Em privado



Já faz tempo
que não escrevo poemas

Antes gostava
de ter a folha diante dos olhos
e contemplar o entardecer.

Agora
enche-se-me pelas noites a cabeça de ruído
um ruído raro
e vejo palavras infinidade de libélulas
desaparecem revolteando até se perderem

e perco-me eu
e caio sem respiração no anfiteatro da noite

e acordo
com os músculos presos.

Quando vou gritar
uma mão branquíssima baixa lentamente
e tapa-me a boca.



(versão minha; original in Metalinguísticos y Sentimentales - Antología de la poesía española (1966-2000), introdução, notas e selecção de poemas de Marta Sanz Pastor, Biblioteca Nueva, Madrid, 2007, pp. 151-152)

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