sábado, 20 de outubro de 2012

Quando eu soube da morte do poeta Manuel António Pina


O dia já estava escuro
quando eu soube da morte do poeta
Manuel António Pina.

"Então isso faz-se?", perguntei,
incrédulo, ao escuro.

E acrescentei:
"Agora quem vai lembrar o nome do cão,
tactear as sombras dos livros,
aflorar o escândalo das nuvens
no céu?

Eu sei, o coração é um logro,
a beleza pura ilusão;
mas sem estas
e outras palavras, escuro,

como iluminar
cada segundo, cada promessa
inseparável da nossa vida?"

Então, caiu a noite.
E, significativamente,
o escuro optou por não me responder.


Luís Filipe Parrado

(19/20 de outubro de 2012)

4 comentários:

io disse...

Tristemente lindo. Sonego-lho, pois, na mais absoluta e letal tristeza e na certeza de que encontrámos quem, sem que gritemos, nos ouça entre as ordens dos anjos.

Lp disse...

Fez muito bem...

Manuel Margarido disse...

Maravilhoso poema, Luís Filipe. E não apenas pelo modo como evocas o Manuel António Pina (seria fácil, uma epifania discretamente laudatória). Não: o poema grita o que, em ti, ficou de mágoa, mais de perda. E não saberia dizer isto nunca, embora o sinta muito. Obrigado. Manuel

Paulo Buchinho disse...

Luis, vou colocar no Facebook, Ok?
Abs,