"(...) A aproximação de Szymborska a essa célebre fotografia do homem que sabemos real e que se atira para o vazio, para escapar à morte pelo fogo que destruiu as Torres do World Trade Center, consiste explicitamente em descrever o voo (essa queda) e em escolher o silêncio perante o horror. Ou seja, em tomar a palavra e, em sentido inverso, optar também pela sua rasura final. Talvez este poema seja mesmo um dos exemplos mais poderosos da determinação ética e poética da autora polaca. Aqui, descrever é mais do que uma acção ecfrástica. É a afirmação de uma recusa de uma abordagem complacente ou sentimentalizante dominada pelo pathos. E é uma forma de sondar a realidade, mesmo que esta se apresente dominada pelo horror e pela morte. Neste sentido, contrariando radicalmente o ofensivo lugar-comum da imagem que vale por mil palavras (que implica a diminuição destas frente à suposta força daquela), Szymborska assume, sem levantar a voz, o imperativo de potenciar o valor insubstituível da linguagem verbal, fazendo de cada palavra uma palavra necessária. Não se trata, portanto, de embelezar ou de desfigurar o mundo. Trata-se, isso sim, de mostrá-lo por meio de imagens verbais que permitam a revelação de pequenos traços de humanidade, traços que afirmem a veemência da vida mesmo se ela é, ou sobretudo porque é, frágil e sublime nessa fragilidade.(...)
(Luís Filipe Parrado: excerto do parágrafo final da recensão publicada no número 4 da revista Cão Celeste da antologia Um Passo da Arte Eterna, de Wislawa Szymborska, organizada e traduzida por Teresa Fernandes Swiatkiewicz e editada pela Esfera do Caos em 2013).
2 comentários:
oh que tristeza agora não ter televisor. Nos anos 2000 tinha um recital só de poesia dela (em Neerlandês) Foi um grande sucesso.Ela ´s bem traduzido em minha língua. Em português encontrei só um livro..Luis..sabes que hámais?
Parabéns pelo teu blog!
Vem conhecer o meu: feitaparailetrados.blogspot.comrseof
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